terça-feira, 2 de abril de 2013

A fazenda para nossa história



Construída por volta de 1875 por Bernardino José de Souza e Mello, o conjunto arquitetônico constituído por casa grande, senzala e engenho foi um exemplo de construção em estilo neoclássico, localizada em território da Vila Iguaçu que chegou a ser considerada uma das mais prósperas da província do Rio de Janeiro. 
Tal patrimônio é um testemunho da história e parte da memória que remete a formação histórica da baixada fluminense na fase de comércio entre a corte e Minas Gerias, evoca a memória não só para região onde estão suas ruínas, mas é capaz de nos fazer conhecer uma época de desenvolvimento em que o país passava a mais de 100 anos atrás, a construção faz parte de uma época em que a região de Vila de Iguaçu já entrava em decadência e a escravidão caminhava para o fim, a mudança da sede do município para próximo a estrada de ferro D. Pedro II, a transferência da matriz paroquial para o arraial de Maxambomba (atual Nova Iguaçu), abolição dos escravos entre outros acontecimentos são marcos históricos para toda a Baixada até mesmo para o país e a fazenda esta inserida neste cenário, nesta memória. Atualmente em total estado de abandono corremos o risco de perder de esta herança histórica.
Ruínas da Fazenda São Bernardino -2013

Ruínas da Fazenda São Bernardino -2013

Ruínas da Fazenda São Bernardino-2013




A propriedade, um dos símbolos mais importantes do período vivido na região foi reconhecida primeiramente pelo prefeito Ricardo Xavier da Silveira ainda em 1940 como parte da identidade e da memória da região, este solicitou a preservação da fazenda através da carta enviada ao diretor do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Em 1951 a fazenda conquistou o título de patrimônio e o tombamento pelo SPHAN, sob o número de inscrição 390, do Processo 432-T, do Livro “Belas Artes”, às folhas 76, a propriedade então recebeu visita de historiadores e arquitetos que realizaram relatórios e levantamentos sobre o estado da fazenda.

Entre estes estão o relatório realizado pelos arquitetos Alex Nicolaeff e Fernando Abreu, do Instituto dos Arquitetos do Brasil:

“A fazenda compõe-se de uma Casa Grande construída sôbre um promontório que domina a região e de uma senzala, em nível inferior e junto à estrada de acesso que se extende (sic) até Tinguá. Na topografia local destaca‑se um renque de palmeiras que marcava a ligação entre êste conjunto e a estação da Estrada de Ferro.
Por tôda a parte sente‑se a decadência imposta pelo tempo e a falta de cuidados. No solar, em particular esta constatação é mais flagrante dada a riqueza anterior da qual só há vestígios. O casarão está perdido num imenso matagal que cobre o antigo jardim e a escadaria externa que arrematava a aléa de palmeiras imperiais com o platô elevado.
O rebôco externo apresenta falhas e remendos nas paredes, cornijas, frisas e pilastras, da pintura amarelada só restam manchas.
A escada dupla da entrada principal mantém o gradil e a forma original num estado razoável embora o pálio em fôlha de cobre e estrutura metálica esteja a exigir reparos.
As janelas, com fôlhas divididas por um rico desenho na vidraçaria colorida, conservam, na maioria, seu pleno funcionamento sendo muitos, porém, os vidros quebrados
No beiral de telhas de louça azul muitas fôlhas e complementações executadas de forma indevida alteram o aspecto original.
No telhado notam-se defeitos que resultam goteira, substituição de grande área por telhas francesas e cumieiras e rincões com grotescos remendos em parte cimentados.
Internamente a impressão de abandono se acentua com as goteiras provocando a destruição praticamente irrecuperável de grandes trechos do fôrro em fino trabalho de estuque estando igualmente em decomposição o madeiramento do mesmo.
O lanternim da escada interna está parcialmente destruído assim como o seu emolduramento interno de gêsso.
O piso em geral e a escada citada, executados em madeira, têm resistido ao tempo.
A parte estrutural da cobertura é o ponto que apresenta os maiores cuidados para a recuperação dessa obra, pois são inúmeras as peças totalmente tomadas pelo cupim.
O casarão é habitado pelo proprietário, o idoso italiano Jácomo Gavazzi que se queixa das coisas de um modo geral e do D.P.H.A.N. que não dá atenção à sua propriedade.
Conta que em certa ocasião armou‑se de espingarda para enfrentar tentativas de invasão nas recentes agitações na região de Tinguá.
O conjunto da antiga senzala sofreu uma decomposição equivalente, com adaptações para habitação de alguns poucos empregados”.

Um comentário:

  1. Olá, conheci a Fazenda na virada desde ano e muito me impressionou o estado devastador em que se encontra esse patrimônio da nossa História. Gostaria de saber se há algum projeto de revitalização ou mesmo mutirão de limpeza. Sou professora de História e Socoologia, sou servidora do Estado e gostaria muito de participar de qualquer iniciativa que vcs possam aventar com relação a esse ou outros casos em que pese a história da escravidão em nosso Estado.

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